1 – Direcção: Há um termo que caracteriza bem a forma como a
direcção do nosso clube se apresenta: pusilânime. Sabemos que o clube está
hoje dotado de estruturas ao nível das melhores da Europa (falta o museu,
esperemos que seja para breve), mas também sabemos que a direcção do Benfica,
hoje, não só é lenta a reagir como, assuma-se, quando fala ninguém a ouve nem
ninguém a teme. Se juntarmos isso a apoios errados a figuras excrementícias
(Fernando Gomes à cabeça) e a quantidade de adeptos de outros clubes que lá estão
infiltrados e o paradigma actual é de um desgaste que, desde os tempos em que
se via que era uma questão de tempo até Damásio cair, não me lembro de ver no
Benfica. Houvesse alternativas – e creio que Vieira secou tudo à sua volta, não
me conseguindo eu lembrar hoje de ninguém que possa, em boa verdade, assumir a
presidência do clube – e creio que estaríamos perante aquilo que, na política
americana, se chama uma “lame duck administration”, sem grande espaço de
manobra ou capacidade para alterar seja o que for.
2 – Plantel: Falta de lateral-esquerdo; dúvidas na
alternativa a Javi Garcia (não me parece que seja Matic seja essa alternativa);
excesso de extremos; falta de vontade de apostar nos jovens (Danilo, Mário Rui
e Saná já se foram; veremos o que acontece a Miguel Rosa, David Simão, Nélson
Oliveira, Roderick, Rúben Pinto, João Cancelo, Luís Martins, André Gomes, Cafú,
Diogo Caramelo, Ivan Cavaleiro e muitos outros) que, se tivessem tido o
acompanhamento que têm os estrangeiros, se calhar muitos deles eram hoje
titulares; e escolhas incompreensíveis na definição do plantel (Kardec em
detrimento de Nélson Oliveira ou Mora, Yannick que não tem qualidade para
vestir a camisola, Martins um ano a rodar em Espanha quando era cá que teria
feito falta, entre muitas outras coisas). Desportivamente, o Benfica decide-se
hoje numa navegação à vista que não deixa entrever qualquer noção de futuro e
que só os resultados podem disfarçar – se bem que, assim, seja difícil ter bons
resultados, numa pescadinha de rabo na boca complexa de resolver.
3 – Poder do Porto: Vejo futebol há 20 anos e nunca vi o
Porto com o poder que tem hoje. O que não mata torna mais forte e a forma vergonhasamente
airosa como saíram de todos os processos judiciais de que foram alvo só os
fortaleceu. Hoje, o Porto tem soft power em todas as instâncias, já não sendo
preciso recorrer tanto à violência como antigamente: se os árbitros não fizerem
o que eles querem, vão para a jarra (o suborno creio que está démodé) e não são remunerados, para além de perderem as insígnias; as
figuras que eles plantam nos orgãos de decisão são tidas como as mais sérias e
competentes, mesmo se a sua isenção já nem sequer se coloca como possibilidade; e, na imprensa, há
uma geração de portistas não apologéticos que dá o seu apoio como se fosse
verdade universal e objectiva. Durante todo este processo, com a excepção do Apito Dourado,
o Benfica manteve-se impávido e sereno vendo o seu mundo desabar enquanto
bebida uma daquela bebidas coloridas com chapéus de sol em miniatura. Como em
tudo, a corrupção e o tráfico de influências só se instalam quando há demasiada
gente a olhar para o lado.
4 – Treinador: Outra figura que aparece desgastada como
raras vezes vi. Não só pelo tempo que já leva de clube mas, sobretudo, pela sua
incapacidade e falta de vontade em mudar quando é preciso. Jorge Jesus tem as
qualidades dos seus defeitos e é talvez o último grande romântico do futebol
nacional. O que faz com que seja o único a não ver que a equipa se desiquilibra
sem três jogadores no meio-campo ou que mais vale ganhar 2-0 e gerir o jogo do
que ganhar por 5-0 com nota artística. Pior é parecer que até pode perder 10 campeonatos que não
mudaria uma vírgula. Pena é que a genética ainda não esteja desenvolvida ao
ponto de podermos fazer um híbrido do jogo atacante de Jesus com o pragmatismo
de Trappatoni: aí teríamos o treinador ideal.
Apoio, sem dúvidas e sem cessar. Mas não me peçam para não
ver que o equilíbrio onde o Benfica se movimenta actualmente é precário. E que,
ao contrário da banda que tocava quando o Titanic se afundava, fingir que nada
se passa é, sim, apanágio dos maus adeptos. Há muita coisa a mudar e chamar a atenção para ela é nosso dever.
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